sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Renato Caldas - O Poeta do Assú

Renato caldas nasceu no dia 8 de outubro de 1902 na antiga "rua das Flores”, hoje denominada Prefeito Manoel Pessoa Montenegro na cidade de Assú – RN. Filho de Enéas da Silva Caldas e Neófita de Oliveira Caldas. Estudou suas primeiras letras na escola de Dona Luiza de França (1908) e entrou posteriormente para o grupo escolar Tem. Cel. José Correia em Assú, no ano de 1911. Boêmio! Seu primeiro emprego foi como tipógrafo, na tipografia de José Severo de Oliveira em 1920. Foi na tipografia que ele aprendeu muito sobre as letras. Colaborou em pequenos jornais da terra, como “Libertador”, “Jornal do Comércio”, “Tribuna”, “A Mutuca” e “O Paládio”.

Em 1923 ele trabalhou como mensageiro nos telégrafos. Também trabalhou em uma tipografia no Rio de Janeiro. Casou-se em 1939 com D. Fausta da Fonseca, após um noivado de doze anos, a noite de núpcias foi adiada por quinze dias, devido a uma “despedida de solteiro” realizada por seus amigos, após o casamento. Dona Fausta já o esperava em casa quando ele voltou só para pegar o violão. Trabalhou no campo de Parnamirim durante a segunda guerra, mais não demorou muito no emprego, como em todos os outros. Voltou para Assú e confessou que não saiu mais do Assú porque é como a carnaubeira: “Gosta do chão onde nasceu.” Dedicou-se muito tempo como seresteiro, animava muitas festas pela região e era convidado para fazer “shows” por todo o estado e até em grandes teatros de fora do Estado.

Amigo do poeta Jorge Fernandes, na época um dos sócios e depois o único proprietário do Café Majestic, de onde saiu para uma sinecura numa repartição pública, Renato também tinha um parentesco com Luís da Câmara Cascudo, e se sentia chateado pos Cascudo certa vez negar essa parentela. Era amigo também de Luiz Gonzaga, e quando este vinha a Assú e o visitava Em Natal tinha alguns amigos: Veríssimo de Melo, Diógenes Cunha Lima, Rui Lucena, Esmeraldo Siqueira, Luiz Tavares, Newton Navarro, Paulo Teixeira. No Assú: ricos e pobres. Quando estava com os amigos sua bebida preferida era cerveja, sozinho: cana. Era um sujeito irreverente e de inestimável inteligência.

Suas poesias contribuíram decisivamente para projetar o nome de Assú no cenário cultural do Estado e até extrapolando os limites territoriais do Rio Grande do Norte. As poesias de Renato Caldas se encontram em Fulô do Mato, livro que rendeu fama a seu nome e o fez conhecido nacional e internacionalmente, atualmente já está na sua sétima edição; Poesias; Pé de Escada e Meu Rio Grande do Norte.

A atuação Política de Renato Caldas

Sua atuação se deu no Rio Grande do Norte e foi de “pacificação” entre os grupos políticos do Estado. Entre seus amigos mais próximos estão Dinarte Mariz, José Agripino, Geraldo Melo, Aluízio Alves. Um dos poucos mal entendidos foi o episódio com o coronel Theodorico Bezerra em 1940, embora não guardasse ódio de ninguém, sentia profundamente o desgosto de ter sido chamado de "vagabundo" pelo deputado Theodorico Bezerra ao recusar o exemplar autografado de "Fulô do mato". Ele foi mal interpretado num episódio com Carlos Lacerda que fora acusado de ter escrito um poema criticando o então governador.

Entre os fatos mais marcantes na vida de Renato Caldas foi ele ter sido testemunha ocular da morte de João Pessoa. Estava no Bar Vitória tomando cerveja, bar defronte ao “Glória”, quando assiste a agressão e assassinato de João Pessoa. Renato comentou que a polícia deu muitos “tiros pra cima”, certamente para dispersar a população e dar fuga aos assassinos. Foi preso político e foi libertado a pedido do então governador do Estado do RN Juvenal Lamartine.
Ele sofreu também um atentado na cidade de Parelhas, no conjunto “Alma do Norte”, sendo ferido à bala por causa de um tumulto político causado por uma excursão.

As obras de Renato Caldas

A poesia de Renato Caldas nasceu numa Assú em transformação. O processo de urbanização tornou a vida social e cultural intensas, fazendo a cidade tomar uma nova feição no seu espaço físico, econômico e cultural no século XX. O desenvolvimento de Assú se deu devido à exploração da cera de carnaúba e algodão, deixando para trás a criação de gado, enfraquecida pelas constantes cheias e/ou cheias da região.

Ela emergiu durante a fase do Modernismo/Regionalismo. Suas poesias tinham características típicas dessas correntes, como o humor, regionalismo e a temática sertaneja. Ele se destaca com sua poesia sertaneja, matuta, que focaliza questões nordestinas. Usa de uma linguagem coloquial, mais próxima do povo, libertando-se da linguagem culta.

Sua obra muito rica é uma preciosidade e fonte de pesquisa e informação do nosso Estado e de seu povo. Renato caldas deu uma enorme contribuição para a literatura e para formação da criação de uma identidade popular, em que suas poesias ganhavam maior destaque porque era feita do povo e para o povo. Uma fonte importante de pesquisa pedagógica para auxiliar a educação em nossas salas de aula. Infelizmente durante nosso trabalho pudemos constatar que Renato Caldas não tem a dimensão que deveria ter em nossas escolas e poucas pessoas conhecem sua vida e sua obra. Isto é muito prejudicial porque estamos perdendo um sujeito que teve uma participação na poesia potiguar e colaborou muito com a nossa terra ao criar seus poemas.

Um dos últimos portas populares, quiçá o ultimo que escreve uma poesia “matuta” cheia de significado e conteúdo da vida, política, sociedade e as relações entre homem e mulher. O escritor Ezequiel Fonseca Filho, também pesquisador dos poetas assuenses, observa em seu livro Poetas e Boêmios do Assu que, no gênero, ninguém até hoje sobrepujou a poesia de Renato Caldas. O jornalista Franklin Jorge do Jornal Tribuna do Norte considera que Renato forma com Fabião das Queimadas e Moysés Sesyom a tríade dos nossos poetas populares mais representativos. Atualmente há alguns livros e ate um CD que o cantor potiguar Guaracy canta Renato Caldas. Encontramos blogs na internet e algumas informações em sites de jornais. Lamentavelmente não há informações no site da prefeitura do Assú, o que deveria ser um local para prestigiar o poeta.

Nota do Grupo:Dentre todas essas questões ficamos satisfeitos pela oportunidade de conhecer este ícone na poesia potiguar e nos sentimos no dever de divulgar suas poesias para que outras pessoas tenham conhecimento de sua contribuição para o Estado do Rio Grande do Norte.


Referências Bibliográficas
CALDAS, Renato. Poesias. Natal: Imprensa Universitária, 1970.

FERREIRA, Claudia Maria Felício. A poesia de Renato Caldas e sua dimensão educativa. 1999.

139 p. Dissertação (Mestrado em Educação) – Departamento de Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 1999.

JORGE, Franklin. A poesia do mato. Natal: Tribuna do Norte, 2002. Disponível em: < www.tribunadonorte.com.br>. Acesso em 14 maio 2008.

CORTEZ, Luiz Gonzaga. O dia em que Renato Caldas eternizou a rua da Fome. Mossoró: O mossoroense, 2005. Disponível em: < www.uol.com.br/omossoroense/180605>. Acesso em 15 maio 2008.
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Rodrigo Wantuir Alves de Araújo
Thyego Franklim da Silva
Wescley de França Rodrigues